06 July, 2006

Hades

Por onde começar? (...)

Não, não tenho estado nos meus melhores dias ultimamente.. Se é que há melhores dias.. As últimas 72 horas nada têm deixado a desejar. O único desejo, se o há, é poder apagar tudo o que senti, tudo o que vi, tudo o que fiz. E se possível ter outra existência num lugar bem nos confins da Terra onde não haja verdadeiros seres humanos a quem magoar. Se me fosse concedido um desejo, seria isto que eu pediria. Lembro-me da lenda do templo de Mnemosyne. As pessoas entravam no seu templo e as sacerdotisas diziam-lhes que apartir do momento em que entravam, todas as suas memórias lhes pertenciam; estavam numa taça de água. Se alguma vez essa água fosse vertida, as memórias eram perdidas para sempre. Todas as pessoas tinha à sua frente uma viagem e no fim decidiam se queriam continuar com as suas lembranças ou não. A primeira paragem era o rio dos Lamentos, Cocytus [do grego κωκυτός, "lamentos"]. A segunda o rio do Sofrimento, [Acheron] um rio de gelo. O terceiro rio um rio de fogo, Phlegethon [(rio de) fogo], o rio da Verdade. Era uma viagem ao Hades, o inferno grego. Embora nem todos os rios infernais estejam aqui mencionados, também desempenham um papel importante neste percurso. Principalmente o rio Lethe, que traduzido à letra, o rio do Esquecimento.

Se todos nós tivéssemos a oportunidade de efectuar esta viagem, quantos de nós ficariam com a taça cheia de água?

Não nos esqueçamos pois que ao vertê-la, todas as memórias, absolutamente todas, boas ou más desapareceriam por completo e seriamos uma tábua rasa do conhecimento.

Quantos de nós estariam dispostos a pagar esse preço?

Digo isto porque me lembro inúmeras vezes desta história. Foi-me contada há tanto tempo que lhe perdi a conta. Mas ultimamente pareçe que lateja na minha cabeça...

Se alguém verter a sua taça, deixará de conhecer tudo aquilo que já conheceu e tudo o que já viu. Pessoas, lugares... Tudo será substituído por um recipiente novo. Não, novo não. Vazio.

Não é muito diferente de como me sinto agora. À excepção de que eu sei por que sofro, por que choro, por que lamento.. Por que sou humana e os humanos são estúpidos.


Parece que foi à milhões de anos...

quando nada disto fazia sentido

porque nada disto para mim existia.

Foi à milhões de anos atrás que eu ouvi esta história

mas para mim era só uma lenda.

Hoje sinto-a na pele, na carne, na alma.

Queima.


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Que eu saiba as lendas não se sentem, pois não?

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