28 April, 2006

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A noite está tão escura. Olho para cima não para ver as estrelas, mas as minhas próprias lágrimas.
Aquele que amei traiu-me.
Judas, trairias-me com um beijo?

Quantas vezes falamos e rimos? Quantas vezes limpei as lágrimas do teu rosto? Quantas vezes me ajudaste em noites escuras como esta? Quantas vezes me beijaste apenas com o calor da amizade aquecendo os teus lábios?
Judas, trairias-me com um beijo?

Onde estão aqueles outros que também amei? Ter-se-ão dispersado aos ventos? Não era minha devoção suficiente? Não era minha adoração tesouro bastante?
Judas, trairias-me com um beijo?

O vento sugere-me que um erro foi cometido. Ela aproxima as suas mãos ao meu ouvido e sussurros aflitivos dos que sofrem, eu imploro: “Vento delicado, não sei de onde vens, nem para onde vais, contudo não me deixes perdido e só. Não partas voando sem me dizeres que transgressão cometi.” A brisa apenas uiva e geme em resposta, determinada em manter os seus segredos. Ela deixa-me frustrado e arrebatado.

O vento impiedoso deixa me só a sangrar, deixa-me só a sofrer com a minha confusão e dor.
Judas, trairias-me com um beijo?

Onde te tratei injustamente? Onde coloquei a dor no teu coração em vez da alegria e riso? Onde os meus lábios bordos te amaldiçoaram em vez de te animar?
Judas, trairias-me com um beijo?

Nas sombras escuras te escondeste. Em sussurros murmurados falas com aqueles espectros escondidos de intriga e decepção. Contos de dor trocados. Contudo estes contos alcançam os meus ouvidos de modo que eu possa emendar a ruptura? Haveria uma maneira de corrigir o erro?
Judas, trairias-me com um beijo?

Pode um erro que nunca foi trazido à luz ser corrigido? Quando a luz do dia brilha em cima dele e dispersa a escuridão, estará qualquer coisa ainda por ver? Se eu remover a ligadura da tua ferida para te curar, haverá uma ferida para ver?
Judas, trairias-me me com um beijo?

Sem um gemido, eu ficarei com os rasgos, as memórias do amor que tens para dar. Sem queixa, permitirei que minhas feridas sangrem.
Judas, trairias-me com um beijo?

Silenciosamente permanecerei na escuridão. Sem reprimenda, carregarei a minha cruz até ao monte onde os simples golpes dirigirão os pregos na minha carne. Silenciosamente, ando através da multidão daqueles que gritam: “Que crime terá este cometido?”
Judas, trairias-me me com um beijo?

Elos de luz começam a iluminar o céu, contudo este véu preto nunca será levantado do meu coração. Na escuridão o meu amor permanecerá onde logo definhará e morrerá. Com a morte vem a única libertação da dor e o sofrimento e eu convidá-la-ei para a minha mesa e reclinar-se-há comigo. Eu deixá-la-ei acariciar-me. Os seus lábios frios pressionarão os meus e na morte eu serei renovado.

Judas, trairias-me com um beijo?

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