16 May, 2006

Simplesmente Não

Não vou chorar não vou gritar não vou mandar coisas à parede não vou parti-las não vou bater nas almofadas não vou bater com os meus punhos na parede até ficar com nódoas negras não vou ficar dois meses fechada em casa sem sair não vou ficar na cama os dias inteiros sem me levantar nem para comer não vou ficar a sentir pena de mim própria pelo que aconteceu ou deixou de acontecer não vou culpar o mundo nem Deus não vou tratar os outros abaixo de cão só porque a vida não me corre bem não vou lançar-me ao mar não vou cortar-me como das outras vezes não vou deixar que os remorsos se apoderem do meu espírito fraco não vou perder-me em mim... Outra vez.

Muitas vezes na vida somos obrigados a tomar decisões difíceis. Muitas vezes não queremos tomar essas decisões porque ao as tomarmos, desejaríamos não o ter feito. Eu acabei de tomar a minha.

It’s better to live with half a love than taking chances on losing it all.

O Amor é talvez das forças mais poderosas e complexas que já alguma vez existiu. Todos nós com certeza já o experimentamos nas suas variadas formas.
Há quem fuja por amor, há quem morra por amor, há quem mate por amor... Eu estaria disposta a tudo isto. Por amor.

Mas muitas vezes temos que fugir do Amor porque é errado ou porque simplesmente não pode existir. Eu acabei de o fazer.

Acreditem, custou-me muito mais fazê-lo do que alguma vez imaginei. Sentir as lágrimas a ameaçarem explodir nos meus olhos, o nó na garganta, a respiração ofegante, o bater errático do coração... E pior ainda, ver o sujeito da nossa adoração incondicional mesmo à nossa frente, a desfalecer, como se nós próprios o tivéssemos trespassado com um punhal. Eu também senti essa dor no meu corpo e na minha alma. Senti o ar a escapar dos pulmões quando proferi a nossa sentença: Não nos podemos ver mais.

Disse estas palavras quase sem pinga de sangue no corpo, e voltei as costas porque não suportei ver os olhos perdidos, irados, complacentes que miravam fixamente os meus e penetravam na minha alma.

Senti que me rasgavam ao meio e não voltei atrás. Ainda ouvi o meu nome, um sussurro ensurdecedor ecoava nos meus ouvidos. Disse a mim mesma que não ia olhar para trás. Falhei a minha promessa.

Não consegui. Os mesmos olhos de há pouco, tinham uma expressão plácida, quase de submissão. Não eram olhos enraivecidos nem acusatórios. A culpa não era nossa e nós sabíamos disso perfeitamente.

Eu estava a poucos passos do olhar vazio e quebrado. Parecia que todos os músculos do meu corpo tinham congelado instantaneamente. Eu era um bloco de gelo. Pela última vez senti os seus braços à minha volta, envolvendo-me por completo num cerco de fogo. Senti o corpo estremecer por debaixo da capa de indiferença que tentava manter a todo o custo. Senti que a sua respiração no meu pescoço, me quebrava lentamente. Os seus lábios deslizavam até ao meu ouvido enquanto eu permanecia imóvel. As suas mãos subiam devagar como serpentes numa árvore e só pararam no meu rosto. Ouvi um suspiro apenas.

“Tu serás sempre minha.”

O nó que se encontrava na minha garganta desceu subitamente para ser substituído com um soluço e as lágrimas finalmente cobriam os nossos rostos.

Por cada lágrima, um beijo. Saborear o sal das nossas próprias lágrimas nos lábios de outrem tem algo de catártico, algo malevolamente reconfortante.

Ficamos assim por alguns instantes. Olhos vermelhos, espíritos quebrados e lançados ao deus-dará... Nem uma palavra mais foi proferida. Alguém tinha que ceder.

Eu sai daquele local, sentindo o vulto que ficara para trás de mim prostrar-se pelo chão gritando dentro de si aquilo que eu sentia em mim mesma. Ódio, cólera, impotência, confusão, mágoa, frustração, culpa, angústia, dor, solidão.

Nesse momento dei-me conta que estava só. Finalmente só.

Espero que as mentes podres e doentias que tiveram parte neste conluio de néscios tenham um fim bastante adequado. Diz-se que tudo o que fazemos aos outros, volta para nós a triplicar. É a lei kármica. Espero bem que todos tenham um fim à altura dos seus actos hediondos.

Sim, estou triste, magoada, revoltada, rancorosa, colérica. Mas sei que nada disto te trará de volta sabendo que aqueles que me apartaram de ti o farão outra vez.

P.S: Se voltarem ao princípio, tirem todos os “não” do texto. O resultado que obtiverem é o que eu vou provavelmente fazer...

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